Cavalcanti (1999;
2011) problematiza o papel da escola de reconhecer e trabalhar os temas
relacionados à cidade como conteúdos educativos. A autora, em diálogo com
Bernet (1997), elucida a possibilidade do trabalho com a cidade no ensino se
destrinchar em três imagens (ou dimensões) da cidade. A primeira dimensão é a
subjetiva que se pauta em trazer os sentidos da relação do indivíduo com o meio
urbano em que vive; a segunda é o plano objetivo que é baseado na concretude material
e histórica da cidade; a terceira, por fim, é a imagem da cidade que projetamos
construir (CAVALCANTI, 1999, p. 42) .
As cidades são a
condição material e subjetiva do ser contemporâneo. “A subjetividade dos
sujeitos da cidade deve ser analisada na sua relação com a objetividade da
produção do espaço, com os processos estruturantes da sua produção e com as
contradições inerentes às múltiplas identidades desses sujeitos” (CAVALCANTI,
2011, p.4). Com isso, vemos que a produção do espaço urbano é sincrônica à
produção de um modo de viver na cidade. A Educação Libertadora repensa esse
processo de produção, no sentido de espelhar aos sujeitos educativos o seu
reconhecimento como agentes desse processo. No reconhecimento de si e do seu
meio, o sujeito se coloca numa posição em que não atuará apenas como produto na
história, mas agente protagonista da História.
Projetar uma Educação
Libertadora no contexto do ensino de geografia, mediados pelo estudo do grafite
e pichação, implica entender a relação histórica opressor-oprimido que Paulo
Freire bem nos atenta. Para Freire (2016) a Pedagogia do Oprimido constrói o entendimento
dos processos históricos da opressão e seus efeitos, como objeto de estudo e
reflexão dos oprimidos.
Voltemos à proposição
de Cavalcanti (1999) quando ela fala da terceira imagem da cidade a ser
construída no âmbito do ensino, que é a imagem da cidade que projetamos
construir. Aglutinando com essa perspectiva às referências da Pedagogia
Libertadora, podemos sugerir que a construção dessa imagem vem amalgamada com a
projeção de liberdade, “através da qual se enfrentará culturalmente, a cultura
da dominação” (FREIRE, 2016, p. 80).
A pichação e o grafite
enquanto práticas libertadoras na cidade arquitetam meios de aprendizagem das
ruas e constroem aprendizados na e da cidade. A leitura dessa arte pode trazer
à tona uma formação cultural que redimensiona nossos esquemas mentais, o que
contribuiria para uma inserção ativa e crítica na sociedade que vivemos. Essa forma estética nos atenta para a
necessidade de projetar um ensino de geografia com práticas que despertem
sensibilidade crítica à consciência social de nossos direitos à cidade, de
nosso papel na atuação no meio que vivemos. Essa manifestação cultural oriunda das ruas permitiria essas
transformações nas pessoas e nos espaços, já que possibilita a instituição de
novas relações e novas leituras dos indivíduos com seu meio e entre os sujeitos
do processo educativo.
Referências:
CAVALCANTI, Lana de Souza. A cidadania, o direito à cidade e a
Geografia escolar: elementos de geografia para o estudo do espaço urbano.
Geousp, São Paulo, v. 5, p. 41-56, 1999.
_______.Aprender
sobre a cidade: a geografia urbana brasileira e a formação de jovens escolares.
Revista Geográfica de América Central Número Especial EGAL- Costa Rica, p.
1-18, 2011.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Paz & Terra, Rio de Janeiro, 2016.
Texto por Ana Claudia Honorio
Texto por Ana Claudia Honorio
Nenhum comentário:
Postar um comentário