terça-feira, 30 de janeiro de 2018

A CIDADE PELO OLHAR DA EDUCAÇÃO LIBERTADORA


   Cavalcanti (1999; 2011) problematiza o papel da escola de reconhecer e trabalhar os temas relacionados à cidade como conteúdos educativos. A autora, em diálogo com Bernet (1997), elucida a possibilidade do trabalho com a cidade no ensino se destrinchar em três imagens (ou dimensões) da cidade. A primeira dimensão é a subjetiva que se pauta em trazer os sentidos da relação do indivíduo com o meio urbano em que vive; a segunda é o plano objetivo que é baseado na concretude material e histórica da cidade; a terceira, por fim, é a imagem da cidade que projetamos construir (CAVALCANTI, 1999, p. 42)     .
As cidades são a condição material e subjetiva do ser contemporâneo. “A subjetividade dos sujeitos da cidade deve ser analisada na sua relação com a objetividade da produção do espaço, com os processos estruturantes da sua produção e com as contradições inerentes às múltiplas identidades desses sujeitos” (CAVALCANTI, 2011, p.4). Com isso, vemos que a produção do espaço urbano é sincrônica à produção de um modo de viver na cidade. A Educação Libertadora repensa esse processo de produção, no sentido de espelhar aos sujeitos educativos o seu reconhecimento como agentes desse processo. No reconhecimento de si e do seu meio, o sujeito se coloca numa posição em que não atuará apenas como produto na história, mas agente protagonista da História. 
Projetar uma Educação Libertadora no contexto do ensino de geografia, mediados pelo estudo do grafite e pichação, implica entender a relação histórica opressor-oprimido que Paulo Freire bem nos atenta. Para Freire (2016) a Pedagogia do Oprimido constrói o entendimento dos processos históricos da opressão e seus efeitos, como objeto de estudo e reflexão dos oprimidos. 
Voltemos à proposição de Cavalcanti (1999) quando ela fala da terceira imagem da cidade a ser construída no âmbito do ensino, que é a imagem da cidade que projetamos construir. Aglutinando com essa perspectiva às referências da Pedagogia Libertadora, podemos sugerir que a construção dessa imagem vem amalgamada com a projeção de liberdade, “através da qual se enfrentará culturalmente, a cultura da dominação” (FREIRE, 2016, p. 80).
A pichação e o grafite enquanto práticas libertadoras na cidade arquitetam meios de aprendizagem das ruas e constroem aprendizados na e da cidade. A leitura dessa arte pode trazer à tona uma formação cultural que redimensiona nossos esquemas mentais, o que contribuiria para uma inserção ativa e crítica na sociedade que vivemos.  Essa forma estética nos atenta para a necessidade de projetar um ensino de geografia com práticas que despertem sensibilidade crítica à consciência social de nossos direitos à cidade, de nosso papel na atuação no meio que vivemos. Essa manifestação cultural oriunda das ruas permitiria essas transformações nas pessoas e nos espaços, já que possibilita a instituição de novas relações e novas leituras dos indivíduos com seu meio e entre os sujeitos do processo educativo.

Referências:
CAVALCANTI, Lana de Souza. A cidadania, o direito à cidade e a Geografia escolar: elementos de geografia para o estudo do espaço urbano. Geousp, São Paulo, v. 5, p. 41-56, 1999.
_______.Aprender sobre a cidade: a geografia urbana brasileira e a formação de jovens escolares. Revista Geográfica de América Central Número Especial EGAL- Costa Rica, p. 1-18, 2011.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Paz & Terra, Rio de Janeiro, 2016.

Texto por Ana Claudia Honorio

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