A surdez é definida como
um espaço de produção de diferenças construído histórica e socialmente
por meio de práticas de significação
e de representação compartilhadas e
vivenciadas nos conflitos sociais entre
surdos(as) e ouvintes.
A surdez
também é caracterizada como uma experiência
visual , que não se restringe
às questões lingüísticas e comunicativas,
mas é central nos processos didáticos,
curriculares e intelectuais mais
amplos. No entanto, apesar de sua
importância, tal característica é pouco
considerada nos projetos educacionais
voltados para esse grupo, arraigados
à ideia de surdez como deficiência
auditiva (Skliar, 2003b).
Numa perspectiva de educação
multi/intercultural, atenta às formas
como as identidades e as diferenças são
afirmar que todos(as) podem aprender
juntos(as) e considerar os(as) alunos(as)
incluídos(as) como pessoas que precisam
de um atendimento específico
para alcançar o suposto padrão de
normalidade, reforçando práticas de
exclusão.
Para ajudar a pensar essas questões,
recorro uma vez mais a Skliar (2003b),
autor do campo dos Estudos Surdos
em educação, que, sob influência das
reflexões dos Estudos Culturais sobre as
relações entre cultura e poder, introduz
a proposta de inversão epistemológica
do problema da surdez.
Tal proposta, além de advertir sobre
a impossibilidade de coexistência das
duas concepções antagônicas de surdez
– como deficiência e como experiência
visual – num mesmo projeto. Inserido no tema mais amplo das relações entre cultura e sociedade, os Estudos Culturais surgem a partir da criação do Centro de Estudos Culturais Contemporâneos,
na Universidade de Birmingham, em 1964, constituindo-se como um campo interdisciplinar com contribuições da Antropologia, da crítica literária, da Lingüística,
da Semiótica, do marxismo não reducionista de Gramsci e Althusser, sendo influenciado, posteriormente, pelas teorias pós-estruturalistas Focault, Derrida, Deleuze.
Os representantes dos Estudos Culturais, entre eles Hall, Canclini, Bhabha, Woodward, ampliam e aprofundam o conceito de cultura. Nessa concepção a cultura é
vista como um campo de luta em torno dos significados e a teoria como um campo de intervenção política, que reúne uma variedade de posições políticas, teóricas e
metodológicas sobre o processo de produção dos significados culturais, das diferentes formas de manifestações culturais e de resistências à cultura dominante desenvolvidas
por pessoas comuns ou grupos sociais excluídos. (Nelson,Treichler & Grossberg. Estudos Culturais uma introdução In: Silva, Tomás Tadeu (org.) Alienígenas
na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis, Vozes, 1995 (p.7-38).
Segundo Skliar (2003b, p.102-3) as experiências visuais dos surdos(as) envolvem todo o tipo de significações comunitárias e culturais, que se refletem na Língua de
Sinais, como por exemplo: “os nomes e os apelidos visuais dados aos outros, surdos ou ouvintes, que geralmente representam traços visuais e pessoais característicos, as
metáforas visuais com informações estéticas e éticas, os atos de comunicação como dialogar, conversar, discutir, narrar, protestar ou solicitar a entrada em conversações de
forma visual, definição de marcas de tempo na língua de sinais a partir de figuras visuais, sugestão de didáticas e formas de ensino visuais, produção de uma literatura
visual: formas narrativas, poesias, lendas, histórias, etc”.
Como esse mesmo autor nos alerta, a ênfase na experiência visual não significa a criação de um mecanismo
de compensação biológica ou cognitiva que essencializa os sujeitos surdos e a surdez, mas a compreensão do papel das experiências visuais nas formas como significam e
agem no mundo social, tendo em vista o reconhecimento de suas diferenças como culturais e políticas.
concebidas e produzidas na escola e na
sociedade, a representação das alteridades
é central na elaboração de propostas
e projetos educacionais. Portanto, a
não-priorização da experiência visual,
base do pensamento e da linguagem
dos(as) surdos(as), contribui para o
fracasso escolar e a subordinação/exclusão
cultural, política e social desse
grupo.
O predomínio de práticas educativas
com base na impossibilidade, no
déficit, além de ocultar as potencialidades
dos(as) alunos(as), contraria os
fundamentos da educação inclusiva:
a universalização do acesso à educação de qualidade e o reconhecimento
positivo das diferenças.
Assim sendo, o discurso da inclusão
escolar deve enfrentar o paradoxo de afirmar que todos(as) podem aprender
juntos(as) e considerar os(as) alunos(as)
incluídos(as) como pessoas que precisam
de um atendimento específico
para alcançar o suposto padrão de
normalidade, reforçando práticas de
exclusão.
Para terminar. Lembre-se que você que escuta, que a linguagem do cinema também foi um dia mudo. e todos entendiam. faça um esforço e compreenda o outro..
Como sugestão, acesse o site do sines. Você tem muito a aprender.
Leia também: Pedreira, Silvia Maria Fangueiro. Educação de surdos(as) na escola inclusiva e interculturalismo: uma aproximação necessária.