sexta-feira, 1 de maio de 2015

A Surdez na Escola

A surdez é definida como um espaço de produção de diferenças construído histórica e socialmente por meio de práticas de significação e de representação compartilhadas e vivenciadas nos conflitos sociais entre surdos(as) e ouvintes. A surdez também é caracterizada como uma experiência visual  , que não se restringe às questões lingüísticas e comunicativas, mas é central nos processos didáticos, curriculares e intelectuais mais amplos. No entanto, apesar de sua importância, tal característica é pouco considerada nos projetos educacionais voltados para esse grupo, arraigados à ideia de surdez como deficiência auditiva (Skliar, 2003b). 

Numa perspectiva de educação multi/intercultural, atenta às formas como as identidades e as diferenças são afirmar que todos(as) podem aprender juntos(as) e considerar os(as) alunos(as) incluídos(as) como pessoas que precisam de um atendimento específico para alcançar o suposto padrão de normalidade, reforçando práticas de exclusão. Para ajudar a pensar essas questões, recorro uma vez mais a Skliar (2003b), autor do campo dos Estudos Surdos em educação, que, sob influência das reflexões dos Estudos Culturais sobre as relações entre cultura e poder, introduz a proposta de inversão epistemológica do problema da surdez. Tal proposta, além de advertir sobre a impossibilidade de coexistência das duas concepções antagônicas de surdez – como deficiência e como experiência visual – num mesmo projeto. Inserido no tema mais amplo das relações entre cultura e sociedade, os Estudos Culturais surgem a partir da criação do Centro de Estudos Culturais Contemporâneos, na Universidade de Birmingham, em 1964, constituindo-se como um campo interdisciplinar com contribuições da Antropologia, da crítica literária, da Lingüística, da Semiótica, do marxismo não reducionista de Gramsci e Althusser, sendo influenciado, posteriormente, pelas teorias pós-estruturalistas Focault, Derrida, Deleuze. 

Os representantes dos Estudos Culturais, entre eles Hall, Canclini, Bhabha, Woodward, ampliam e aprofundam o conceito de cultura. Nessa concepção a cultura é vista como um campo de luta em torno dos significados e a teoria como um campo de intervenção política, que reúne uma variedade de posições políticas, teóricas e metodológicas sobre o processo de produção dos significados culturais, das diferentes formas de manifestações culturais e de resistências à cultura dominante desenvolvidas por pessoas comuns ou grupos sociais excluídos. (Nelson,Treichler & Grossberg. Estudos Culturais uma introdução In: Silva, Tomás Tadeu (org.) Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis, Vozes, 1995 (p.7-38). 

Segundo Skliar (2003b, p.102-3) as experiências visuais dos surdos(as) envolvem todo o tipo de significações comunitárias e culturais, que se refletem na Língua de Sinais, como por exemplo: “os nomes e os apelidos visuais dados aos outros, surdos ou ouvintes, que geralmente representam traços visuais e pessoais característicos, as metáforas visuais com informações estéticas e éticas, os atos de comunicação como dialogar, conversar, discutir, narrar, protestar ou solicitar a entrada em conversações de forma visual, definição de marcas de tempo na língua de sinais a partir de figuras visuais, sugestão de didáticas e formas de ensino visuais, produção de uma literatura visual: formas narrativas, poesias, lendas, histórias, etc”. 

Como esse mesmo autor nos alerta, a ênfase na experiência visual não significa a criação de um mecanismo de compensação biológica ou cognitiva que essencializa os sujeitos surdos e a surdez, mas a compreensão do papel das experiências visuais nas formas como significam e agem no mundo social, tendo em vista o reconhecimento de suas diferenças como culturais e políticas. concebidas e produzidas na escola e na sociedade, a representação das alteridades é central na elaboração de propostas e projetos educacionais. Portanto, a não-priorização da experiência visual, base do pensamento e da linguagem dos(as) surdos(as), contribui para o fracasso escolar e a subordinação/exclusão cultural, política e social desse grupo. 

O predomínio de práticas educativas com base na impossibilidade, no déficit, além de ocultar as potencialidades dos(as) alunos(as), contraria os fundamentos da educação inclusiva: a universalização do acesso à educação de qualidade e o reconhecimento positivo das diferenças. Assim sendo, o discurso da inclusão escolar deve enfrentar o paradoxo de afirmar que todos(as) podem aprender juntos(as) e considerar os(as) alunos(as) incluídos(as) como pessoas que precisam de um atendimento específico para alcançar o suposto padrão de normalidade, reforçando práticas de exclusão. 

Para terminar. Lembre-se que você que escuta, que a linguagem do cinema também foi um dia mudo. e todos entendiam. faça um esforço e compreenda o outro..

Como sugestão, acesse o site do sines. Você tem muito a aprender.