quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Migração Humana

O projeto genográfico, realizado pela National Geografic Society, revela atravéz de coletas de DNA, as migrações humanas pré-históricas que povoaram todo o planeta. O DNA foi colhido na região de Astória, Queens, Nova York, uma das regiões com diversidade étnica do planeta. Atravéz desse DNA, eles construiram um mapa com a migração humana, como mostra o mapa a seguir.





       Com base neste mapa, pode-se dizer que a migração não é um fenômeno recente, sempre houve em diferentes períodos ao longo da história. Podemos citar a marcha dos judeus em busca da terra prometida; as invasões dos chamados povos do mar; as dos godos na Baixa Idade Média; as que no Novo Mundo marcaram a chegada de povos indígenas procedentes da Ásia. E, por suposto, não podem esquecer-se dos milhões de mulheres e homens que chegaram a diversos lugares desse continente, a partir do encontro iniciado por Cristóvão Colombo. Mas, apesar destes e outros grandes movimentos de povos, constatamos que atualmente no início do terceiro milênio de nossa era, novas formas de migrações de milhares de pessoas constituem uma realidade dramática em si mesma, e aos olhos de alguns parecem ameaçadoras.  
      Os principais cenários nos quais ocorrem atualmente as migrações são: Europa e Estados Unidos. Talvez Austrália e Nova Zelândia estejam também destinadas a ser. Em poucas palavras, pode-se afirmar que tais migrações ocorrem desde regiões abatidas economicamente para os países considerados florescentes e prósperos. 
        Na Europa os movimentos migratórios provêem tanto do norte da África ou dos países subsaarianos e também da antiga Europa do Leste e de outros países como do Equador e da Colômbia. Na América ocorre para os Estados Unidos a partir do México, do Caribe e de vários países da América Central e da América do Sul. Dramáticas são as notícias sobre os subsaarianos que cruzam por mar em frágeis embarcações ou saltando as barreiras levantadas para impedir sua entrada em lugares como Ceuta e Melilla. Trágicas também são as centenas de mortes de mexicanos e outros latino-americanos que se arriscam a entrar nos desertos do sudoeste dos Estados Unidos. 
        O que se deve fazer diante desta realidade? Os países ricos procuram fechar suas portas, isso é um fato. No caso dos europeus, eles parecem esquecer que, como potências colonialistas, exploraram até onde puderam os países de onde vêm atualmente os imigrantes. E no caso dos Estados Unidos, seus governantes parecem ignorar que sua grandeza se originou em grande parte nas intervenções e aproveitamentos perpetrados na América Latina. Não foram eles os que, numa guerra de conquista infame, arrebataram do México a metade de seu território? 
      Os países desenvolvidos recusam quase sempre dialogar sobre o tema da migração. Por um lado, necessitam da mão-de-obra barata. Por outro, temem a invasão de pessoas que lhes parecem indesejáveis. Esta tensão vai-se prolongar indefinidamente? Que possibilidades existem pelo menos de resolver este problema acutíssimo? 
      Os movimentos migratórios, muitas vezes erráticos, são de tal magnitude que todos os envolvidos devem participar na busca de possíveis respostas. A dizer todos os envolvidos devemos pensar nos governos e nos povos dos países emissores de migrantes e também dos países receptores. Seria uma quimera e uma violação dos direitos humanos que os países desenvolvidos tentassem obrigar os emissores a impedir pela força ou de qualquer outra forma que seus cidadãos se deslocassem livremente para onde quisessem. Mais que outra coisa deve ser analisada demoradamente qual é a causa principal desses deslocamentos. A resposta é dada por umas quantas palavras: o motivo fundamental é de caráter econômico.
    Os migrantes deixam tudo em seu país, visando participar do desenvolvimento que pensam que existe e encontrarão no país ao qual, por todos os meios, tentam penetrar. A África subsaariana sempre esteve atada à economia dos países europeus, durante os anos de colonialismo. Mas teve uma vinculação não só assimétrica, mas de exploração de seus recursos para proveito dos outros. Agora, os migrantes europeus outra relação. Procuram melhorar suas condições de vida e as de seus familiares, prometendo-lhes enviar remessas de uma parte do dinheiro que ganharem. 
       Mas será que todos ou a maioria dos migrantes atingem seus propósitos? As dificuldades que enfrentam, desde o momento em que deixam sua terra, são enormes, e em certas ocasiões as adversidades significam a perda de suas vidas. Além disso, quando conseguem entrar nos países receptores, estes com freqüência os expulsam de volta aos seus lugares de origem.

Por estas e outras razões devemos nos perguntar: podemos participar, para o nosso próprio bem, do desenvolvimento dos prósperos e poderosos? Penso que pode haver um meio de solucionar este problema e vou esboçá-lo. Se os governos emissores e receptores se reúnem e discutem a criação de centros de produção nos países emissores, financiando tais centros com recursos multinacionais, poderá vislumbrar-se um caminho de associação e participação na economia dos desenvolvidos. Não estou pensando na instalação de um maior número de fábricas maquiadoras, montadoras ou de acabamento de produtos manufaturados nos países desenvolvidos. Penso na criação de núcleos de produção organizados com participação econômica de emissores e receptores. Os emissores podem proporcionar o terreno e determinadas matérias-primas, assim como a mão-de-obra. Os desenvolvidos contribuirão com os recursos de capital necessários.

Em um princípio os diretores virão dos desenvolvidos, mas com o tempo deverão ser capacitados outros do país onde for estabelecido o centro de trabalho. Vigiar-se-á que a mão-de-obra tenha condições aceitáveis de trabalho e salários justos. Ademais tentar-se-á dar-lhes participação nos lucros da empresa. Esta produzirá bens e outros insumos requeridos, principalmente, pelos antigos receptores. Aqueles que eram forçados a migrar para participar da economia dos países desenvolvidos poderão melhorar sua situação econômica sem ter que abandonar sua terra. Sua melhoria econômica mudará suas condições de vida. A antiga e desgarrada assimetria entre emissores e receptores será atenuada.

Se o projeto se concretizar, os movimentos migratórios diminuirão. Os desenvolvidos não ficarão agoniados com a entrada de milhares de pessoas que tentam entrar em seu território, inclusive com violência e começarão a ter outras formas de relacionamento mais justas e humanas com os povos que durante séculos foram explorados. Será que isso poderá converter-se em uma nova forma de globalização econômica positiva? As pessoas que trabalharem nesses centros não abandonarão seu país e seus costumes, melhorarão suas vidas em sua própria terra. Isso é uma utopia? Será que não vale a pena os economistas ponderarem propostas como esta e os políticos considerarem sua viabilidade? O que realmente repugna é pensar que uns poucos tenham o direito a viver bem e na opulência, enquanto que as maiorias vegetam na pobreza e muitas vezes também na miséria.

Miguel León-Portilla é antropólogo e historiador mexicano




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